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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

27 de Dezembro, 2021

Espremer ideias

Bruno Gouveia

O que se faz quando não sai nada? Quando tudo o que se pensa é vazio, ideias desprovidas de miolo. E quando me ponho a pensar nisso, penso que talvez todas as minhas ideias sejam assim. E se forem? O que é que isso muda? Nada. Miolo não é para todos, não precisa de ser para mim, contento-me com as côdeas.

Não sei no que hei de pensar para me surgir inspiração. O Natal deixou-me anafado. Eu pensava que anafado era baixo e gordo mas afinal não, é só gordo. Eu, mesmo sendo alto, posso ser anafado. Mais uma coisa para ser e experimentar.

Tentei fazer um diário de poemas num blogue. Mas para quê? Só me estava a massar. Vou colar aqui só para ficar registado. Foi perpétuo com 5 edições, foi irrevogável com mudança de ideias. Tudo o que é para durar nada dura e o que é temporário para sempre fica. 

Tenho a dizer que gostei do Natal. Estou a fazer-me gostar para quando tiver o rebento. Vai ser incrível. Eu adorava quando era puto, até perceber que tinha sido enganado. Mas tempo de qualidade em família será importante a partir de agora. Tenho muito para mudar em mim. Vamos a isso!

Hoje não veio nada, amanhã que seja melhor.

 

Poema Perpétuo 1 (4 dias atrás):

Hoje começa

O poema perpétuo

Tal como o caldo

Dura para sempre

 

A cada dia

Um verso muda

 

Não prometo

Que não mudem mais

Depende de mim

 

É tipo um diário

Em tentativa poética

Não sei ao que leva

 

Poema Perpétuo 2 (3 dias atrás):

Hoje continua

O poema perpétuo

Tal como o caldo

Dura para sempre

 

A cada dia

Um verso muda

 

É tipo um diário

Em tentativa poética

Não sei ao que leva

 

Na véspera da véspera

Soube a natal

Queijo, broa e vinho

Não há nada que faça mal

 

Quase a vir o rebento

Que não seja menino Jesus

Que espere mais uns dias

E que não faça o sinal da cruz

 

Poema Perpétuo 3 (2 dias atrás):

Hoje é Natal

O poema perpétuo

Tal como o Natal

Dura para sempre

 

A cada ano

Pouco muda

 

É tipo uma febre coletiva

Em tentativa poética

Não sei ao que leva

 

Faz a mala e vira

Rebola e sacode

Tudo o que cada momento é

Nenhum é mais que outro

Não há diferença entre nós e chimpanzé

 

No caminho para a morte

Tantos faz o que fazemos

Não interessa se matamos

Ou se ajudamos a velhinha do fundo da rua

Não interessa se sou forte

Ou se comemos carne crua

 

No fim tudo vale o mesmo

Nem a própria idade faz diferença

Se somos gente ou torresmo

Nada passa de uma crença

 

Poema Perpétuo 4 (1 dia atrás):

O Natal já foi

E não durou para sempre

Valha-nos Deus

 

A cada ano

Pouco muda

 

Estar adormecido no sofá

Estarrecido com tretas

Parece-me que não sou de cá

 

Tudo é feito para me tirar de mim

De mim que sou o que acho que sou

Mas que não sei distinguir

Que parte de mim é que deixo extinguir

 

Fantasias e escapismos

Não deixam que sobre

Nem roupa-velha sobra

Que me tire este espírito pobre


Poema Perpétuo 5 (hoje):

Acabou-se a motivação

Para escrever rigorosamente

Acabou-se o meu chão

Que me dava razão

De pensar incessantemente

 

Poetizar deixa assim

Um corpo vago em mim

Que de nada faço ilustre

Nem tem retorno nem fim

 

Triste deixar-me levar

Por um só impulso

 

Mesmo que sejam muitos

E se juntem todos

Muitos não fazem bons

Nem adicionam valor

 

Valor que de nada serve

Sem ser para continuar

Passar um pouco de tempo

Que não volta nem quero

25 de Dezembro, 2021

Para onde ir?

Bruno Gouveia

Sei lá. Tinha este título escrito há bué, man. Já não me recordo de que é que estava a falar. Entre vinho e vinhete, vinagre e vinagrete, estou oficialmente tocado. Não sei para que estou a escrever, de nada serve. Vou morrer e vou. Ninguém me aprecia. Nada do que escrevo é ouro. Nem para mim. Preciso de algum tipo de validação. Isso e de trocar de teclado, que este para escrever é doloroso. Vou trocar um dia destes. O problema é que o outro tem o cabo curto. Antes ter cabo curto que não ter cabo. Eia que javardo.

Vou contar uma história. Levemente baseada num sonho que tive hoje. Ia um gajo a passear por telhados altos, a saltar de prédio em prédio. Lá em baixo gritava o seu ex-futuro sogro, a querer que ele descesse para lhe afinfar umas reguadas nos queixos. Apanhou-o a masturbar a filha dele. E pior que isso, a masturbar-se a si próprio enquanto o fazia. Que merda.

O garoto lá conseguiu fugir por entre os telhados e refugiar-se na casa de alguém que tinha a janela destrancada. Ele até se sentiu mal, em pleno inverno abrir uma janela e arrefecer o apartamento. Mas era necessário. Assim o fez. Entrou para um apartamento desconhecido e escondeu-se numa das casas de banho. Ninguém o viu nem ouviu, mas ele conseguia perceber movimentos e ouvir vozes. Escutou um senhor a falar ao telemóvel. Dizia que queria cancelar o serviço de internet imediatamente. Isto não dava jeito nenhum ao gajo que se escondia ali, esperar que o dono saísse de casa sem internet para ir ao insta era uma merda. Os dados móveis já tinham ido todos quando se esqueceu que tinha o wi-fi desligado quando via serviços de streaming.

Isto passou-se. Era Páscoa e estava um dia bom. Nem frio nem chuva. Estava bonzinho. Jesus Cristo lá ressuscitava mais uma vez e aborrecia-se. Normal né? Todos os anos a ressuscitar e ter de empurrar ganda pedra pesada e dura que nem cornos. Até eu me chateava, mas eu não sou uma divindade religiosa.

Já me passou. Acabei de ler o estrangeiro do Camus. Só para ficar registado, não interessa o que vivemos. Não interessa se temos moral ou ética, se somos novos ou velhos. Vivemos só o presente e dele não conseguimos escapar. Nada nos salva. É triste ter esta realização. Mas pronto, que venha o orgasmo.

10 de Dezembro, 2021

Filosofia em dois tempos

Bruno Gouveia

A filosofia tem dois tempos, o tempo pensado e o tempo vivido. E o vivido acontece simultaneamente antes e depois do pensado.

 

what made you what you are at any point in time has the same weight as of what you want to become 

 

Só no momento do pensamento é que surge a filosofia. O que veio antes e depois não passam da razão e da consequência desse pensar. Juntam-se num só. Tudo o que veio e o que vem é em essência a mesma coisa.

A filosofia é como uma metáfora. Esta própria afirmação é uma metáfora. Esta afirmação é a filosofia.

 

Vi que não estava assim

Assim como sabes que sou

Tu aí que estás aqui

Dentro de mim

 

A farsa do pecado está no pensar

Que daqui não passo

Que sou uma urgência latente

Uma farinha de servitude humana

Que no fim serve para quase nada

 

Ao nada almejo ir

O tal conceito que de nada não tem nada

Lá procuro

Mas não sei para que lado virar

Se o da almofada fria ou do lençol quente

São ambos reticente

 

Pensamento varejeira

Irrita e não chega à beira

Quero enxotar mas foge antes do estalo

Com tanta tentativa, já tenho calo

 

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Meti-me num discord de filosofia e fui para lá fazer perguntas. Está aqui o resultado:

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08 de Dezembro, 2021

Dia sem palavras

Bruno Gouveia

Hoje foi um dia terrível. Passei-o a dormir. Sempre irritado, sempre estranho, sempre a sentir-me mal. Não sei o que fazer. Nem me apetecia escrever. Como raramente apetece. Estou a ouvir MGMT agora.

Sinto-me estranho nesta fase da minha vida. Sinto uma vontade de reciclar a mente, de ter estrelas a cobrir-me os olhos. É a nossa decisão, viver rápido. Não é não. Podemos viver bem rápido mas não somos nós que decidimos. E o tempo não faz sentido. Que se lixe 

 

Não vou escrever mais. Vou antes questionar o porquê de perguntar. Ou então começo uma história.

 

Era uma vez um vendedor de fruta, com o seu negócio de bairro. Vendia papaia, melão, e ananás. Vendia outras coisas também, incluindo outras frutas, mas para que é que vou estar aqui a pensar numa lista de frutas para ele vender? É um vendedor de fruta, foda-se!

Num certo dia nublado, cheio de nuvens que espelhavam a falta de vontade da humanidade e que iriam fazer chover, provavelmente. Ou então não, às vezes pensamos “vem aí tempestade” e depois aquilo passa e um gajo nunca mais se lembra. 

Bem, continuando a história, o vendedor nesse dia estava a atender um cliente, um homem alto, com barba grossa, olhos rijos, coração mole, vida ocupada, possuidor de uma hérnia discal. Tudo isto características que não interessam a ninguém, ele só foi comprar fruta Mas pronto, é o gajo de barba grossa.

Quando ia a pagar, pediu número de contribuinte. O vendedor não achou bem, já ganha tão pouco e ainda tem de dividir com um estado que ele acha que não lhe compensa.

Isto passou-se e sete anos depois, o vendedor já tinha deixado a sua frutaria. Tinha sido atropelado e entrado em coma. Agora acordou. Tinha um assassino pronto a acabar-lhe com a vida. Mas ele desviou-se e toda uma cena de ação mesmo à filme aconteceu.

Ele escapou e emigrou para o Vaticano. Tornou-se padre, fez orgias com outros padres, e fez-se Papa. E agora é Papa, o cabrão.

06 de Dezembro, 2021

Palavras do dia

Bruno Gouveia

Então e hoje? Passou-se.

No decorrer de conversas sem sentido no discord, enquanto ouvira Baroness, fui parar ao priberam. A cena fixe deste dicionário que os de papel não têm é a seção de palavras mais pesquisadas do dia.

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Deparando-me com isto fiquei a pensar no evento cultural ou viral que levou a que as pessoas estivessem a querer saber o significado de sodomizar num dia como hoje. Procurei nas trends do twitter, por sugestão do Jesus, mas o palpite que tenho é que tem a ver com o Big Brother Brasil. Se ainda estiver a dar, depreendo que a Débora é de lá.

Estou mesmo aborrecido para procurar entretenimento num dicionário. Seguindo o esquema, vou tentar fazer uma frase com as palavras mais pesquisadas do dia. E se fizer sentido é um plus.

O sodomizado contundente foi deferido como bem-vindo na face da gafe como quem promulga a sodomia. Ia sodomizando o putativo herege para promulgar a entropia. Está em deferimento sodomizar a omicron.

05 de Dezembro, 2021

Comichão da madrugada

Bruno Gouveia

Qual é a cabeçada que faz crescer o tendão da vida passada? O que vier a correr pelas escadas abaixo com um cesto de cordel. A que espirra de um urinol e que celebra a fada madrinha. Parece-me que já estava deitada quando suspirou uma virilha congestionada. Não se passava com tanto trânsito mas a prenda que viria não era a mais famosa. Era cristão, o sapo que erguia poses intragáveis.

O forro da cabeça voltava para o ninho. Enquanto isso sucedia, a tinta secava no caderno para que os vorazes defecadores se abstivessem nas eleições. 

Penso em voltar para a cama e deixar a parvoíce. Acho que é o que faço melhor. Acho que sim, vou fazê-lo. É só mais alguma coisa para me levantar. É tudo tão blergh. Estou cheio de comichões. Não sei se é a mente que pica ou se é o meu eu físico a derrotar-me. Provavelmente o segundo.

Vou dormir. Até amanhã. Coço o queixo, coço as ancas, coço os braços. É um desconforto terrível. Coço o nariz. Agora coço com a imaginação. Não funciona tão bem como “the real thing”. E é uma pena. Nada do que escreva tem o poder que o coçar fisicamente tem. Cocei o olho e agora tenho expectoração. Tenho frio. Está frio. Estou desconfortável fisicamente. Será que me distrai do desconforto psicológico que sinto? Não estou assim tão mal.

O que acontece quando morrer? Ao que escrevi? Será que devo ter algum plano? Publicar isto em algum sítio? Só para não desaparecer tudo. Mas pensando bem, para que me preocupo com isso. Nada interessa depois de morrer. Quero lá saber se tudo vai, tudo vai mesmo.

Vou-me deitar.

03 de Dezembro, 2021

Voltar ao automatismo

Bruno Gouveia

Sobe a garra e desce o queixo

Para o vale da imensidão

Retorna a paz e o farejo

Vai tudo de mão em mão

 

De repente vem o bilhete

Do jogo que não acabou

Espero que venha a felicitar

O estômago do vagabundo

Que passa por aí a vaguear

 

Se de repente me trago

A seduzir uma baleia

Finalmente me vou embora

E levo a camisa ao peito

 

Por onde me hei de levar

Senão por uma rua de Paris

Chego ao canto e assobio

Dou a volta e com pouco pio

Vejo ao longe a fonte bela

Com moedas atiradas

Que pintam no fundo uma tela

Tão estendida como funda

Tão vantajosa como inútil

No peito de quem sonha

 

Isto não é nada. Rascunhos sem vocação. Estou tão aborrecido que não consigo ver como saio desta. Eu tenho vontade e esforço-me mas nunca é suficiente. Só me apetece fechar a porta com força à minha vontade de encontrar sentido. Talvez só valha a pena sobreviver e ser um animal reprodutor. Almejo grandes viagens e um propósito maior mas acho que tenho de aprender que tal objectivo é idiota. Posso gostar de muita coisa mas não tenho perseverança para o conseguir. Pelo menos por agora. Mas nas próximas três semanas vou aguentar. Pode ser doloroso e no fim olhar para trás e parecer que foi incrível, tal viagem pela Europa.

Será que aqui é um bom sítio para começar a explorar personagens? É um sítio tão bom como outro qualquer e aqui não tenho a pressão de começar um trabalho formalmente. Vamos então. 

Para personagem principal quero alguém que a audiência se possa rever nele. Uma história de peixe fora d' água. Um miúdo que sai do secundário e vai para outra cidade estudar. Cheio de medo e ansiedades. Alguém que não se conseguiu encontrar até então e que vai ter nesta nova experiência a oportunidade de se revelar e crescer. Vem com alguma bagagem do secundário, nomeadamente uma namorada, a sua “highschool darling”, e alguns amigos de infância que o visitam algumas vezes. No fundo é um nerd e adora videojogos mas tenta parecer ao olhos dos outros um gajo que adora rock e apoia-se no colega de casa para ir desenvolvendo essa parte.

Um à parte: Esses amigos são pessoas que não tiveram ou a oportunidade ou a vontade para seguir os estudos fora da cidade natal e que vêem nele uma janela para uma vida universitária mais aventureira. Aqui pode haver a possibilidade de no fim dos episódios o personagem principal se encontrar num bar na cidade natal, junto aos seus amigos locais, a contar as histórias que se passaram naquela semana. Será que isso pode ser o conceito do programa? Histórias de alguém que foi para fora a serem contadas aos amigos? Isto justifica os exageros e embelezamentos naturais da coisa. Pode também ser uma justificação para o “unreliable narrator”. A audiência pode ficar sempre na dúvida se tal coisa aconteceu ou não. Hm… Não sei se funciona. Fica a ideia mas voltando a descrever personagens…

Outro personagem importante é o colega de casa. Poderá haver mais colegas de casa, mas este será o mais importante. Este será muito baseado no Guillaume. Alguém que não quer saber das aulas nem das notas, que já está na faculdade há anos, toca guitarra, é um rockeiro e tem comportamentos aleatórios.

Outros colegas de casa podem ir e voltando. Ideias:

  • Alguém que só dura um dia e vai embora porque o Guilherme (possível nome) lhe põe o telemóvel na massa por ele estar sempre às mensagens com a namorada;
  • Um gajo (inspirado no Domingos) que sempre que volta bêbedo para casa traz consigo material rodoviário. Ou sinais de trânsito (com o poste ainda agarrado que causam dificuldade de movimentos na sala), redes de obras (por qual declara paixão);
  • O rei da massa, um estudante estranho que raramente sai do quarto mas que tem um altar de massa e apenas come isso. Anda sempre de robe e é muito rabugento. Quando o principal e o Guilherme precisam de entrar com o sofá do lixo ele rejeita-se a ajudar.

O interesse amoroso do principal. A “girl next door” da história mas que nunca conseguem realmente ter uma relação por vários motivos. Não ir pelo lado do “Ross and Rachel”, mas deixar apenas no ar o interesse de um pelo outro mas depois o desinteresse pelo personagem principal de ter uma relação séria durante a faculdade, pois quer aproveitar.

Uma rapariga pela qual o principal se apaixona e não percebe que está a ser usado para fazer ciúmes ao ex-namorado, usando as redes sociais para o efeito. Chegam a andar durante um tempo, fazem sexo depois de um enterro mas depois disso apenas dormem juntos sem acontecer mais nada. Ela só quer que pareça que eles andam para colocar ciúmes.

Uma marrona que está sempre a meter veneno entre toda a gente e a querer tirar informações. Causa sempre mau estar entre os outros personagens. Vive com as outras duas.

“Bucha e estica”, o bucha pode ser inspirado no Tito, dois party animals que aparecem sempre bêbados ou drogados com ideias mirabolantes. Tentam levar o sofá do lixo para cima de um ar-condicionado.

Algumas memórias para episódios:

  • Destruição de um apartamento porque a senhoria levou as coisas.
  • Grupo de vândalos agridem e roubam estudantes. Guilherme passa ao lado porque vai dormir nas flores, um colega vai de propósito meter-se com os vândalos para ter atenção dos outros (será que isto encaixa numa série de comédia? É preciso encontrar o tom). Vândalos atiram pedras a autocarros da discoteca e o episódio é encoberto pela faculdade
  • Mafalda liga porque tem um sofá no lixo perto de casa dela. O principal e o Guilherme vão buscá-lo e têm uma grande aventura no caminho para casa.
  • Episódio em que os três rapazes que vivem na casa do principal ficam colados no megaman e perdem grande festa. Pode ser um episódio mais focado nas raparigas.
  • Enterro em que o principal e Guilherme mandam drogas e bebem demasiado. Principal abraça-se aos seguranças e vai para casa e envolve-se com uma lésbica.
  • O principal acorda com fumo a entrar pelo quarto, chega à sala e percebe que é o Guilherme a assar chouriças com benzina.

 

Começa a desenhar-se alguma coisa. Fica aqui no diário para pegar depois.

02 de Dezembro, 2021

Copo meio cheio, de vinho

Bruno Gouveia

Por onde começar? Hoje é daqueles dias. Sinto-me cansado, cansado de todo. O trabalho esgotou-me e tive de dormir uma sesta no sofá depois de jantar, enquanto assistia a Seinfeld, para me aguentar a esta hora. Antes de adormecer vi o episódio em que eles estão perdidos no parque de estacionamento de um centro comercial. É um bom episódio. Eu valorizo muito episódios de televisão que se agarram a um conceito e não o largam, comprometem-se a ele até ao fim. Não resulta sempre, mas este é um óptimo exemplo de como o fazer. O ritmo é belo, tudo o que pode acontecer, e certamente já aconteceu à maioria de nós, acontece sempre bem distribuído ao longo dos 20 e tal minutos de duração. E o final é a cereja no topo do bolo, o carro a não pegar.

Será uma boa inspiração para começar a escrever a minha série sobre a vida universitária? Está-me a custar dar o kick-off, ter perdido o que já escrevi, o episódio piloto, é uma grande decepção para mim. Mas por outro lado é bom, vou conseguir abordar a coisa com um novo par de olhos e não me agarrar aos meus “queridos” com cinco ou mais anos.

Abri uma garrafa de porto que tinha na cave e enchi um copo a mais de meio. Penso que pode ser um ritual para a escrita e temo que se torne um vício. Não queria nada, deixei de fumar há mais de um ano e não quero agora transformar-me num alcoólico da escrita. Até porque vem aí um bebé e não vou poder ter pinga de álcool no sangue quando precisar de tratar dele. Tenho a desculpa que é a despedida. “Dorme agora que depois não consegues.” Acho que o mesmo se pode aplicar a beber um copo depois do jantar.

E já estou exausto. A minha energia ficou em conversas um-para-um com pessoas da minha equipa. Conversas difíceis, daquelas que é preciso arranjar falas mansas para dizer verdades difíceis. Mas acho que consegui. E soube-me bem. Não é assim tão mau o meu trabalho quando consigo que as pessoas percebam que têm como melhorar. Até satisfaz. Devo é focar-me nisso, em ajudar as pessoas a crescer e menos nas tarefas monótonas. Aos poucos.

Os meus amigos mandaram-me uma foto deles todos juntos. Sinto inveja e falta de estar com eles. Chorei um pouco. Preciso socializar mas acho tão difícil ultimamente. Parece que desaprendi tudo o que me custou tanto a aprender nos últimos anos. A pandemia estragou-me. A mim e a tantos outros. Aos poucos.

Aos poucos. É desculpa para tudo o que não quero lidar neste momento. Aos poucos lá se resolve. Não sei se vai lá assim, mas aos poucos.

01 de Dezembro, 2021

Farto de escrever

Bruno Gouveia

Passaram dois dias. Já estou farto de escrever. Só estou a fazer porque quero provar que consigo fazer uma coisa mais do que 3 dias seguidos. Amanhã já ultrapasso o meu recorde pessoal. Estava deitado no sofá a pensar que tinha de vir escrever e como isso me irritou. Pensava que ia demorar tempo até isso acontecer, até ver uma coisa que gosto de fazer como uma obrigação. Acho que a dificuldade está em não ter uma recompensa imediata. Num jogo tenho logo de volta um achievement ou uma arma nova, sou imediatamente presenteado pela tarefa mundana que faço. Ao escrever não sinto isso. Sinto que escrever é ir para o ginásio, não é fixe.

Mas mesmo sentindo-me assim, não desisti. E até estou relativamente empolgado por escrever mais dois episódios do meu podcast. Um sobre o pastorinho Francisco e outro sobre hotéis. Vamos a isso a seguir. Agora reparo que o registo desta página está um pouco diferente do primeiro. Da outra vez as coisas iam saindo aos bochechos, agora parece que já tinha uma ideia de por onde pegar a escrever e o que queria desabafar. E acho que é isso que estou a fazer, encontrar neste espaço um sítio para depositar pensamentos e reflexões sem a prisão dos resultados. Só a mim me interessa isto. Acho que aos poucos vou lá.

Nestes dois dias fui DJ da noite romântica com a minha namorada no hotel. Gostei da minha prestação. Ao preparar-me para a viagem, enquanto tomava banho, Tenacious D fizeram-me companhia. Deram-me a energia necessária para aproveitar bem o dia. Na viagem de ida para Pedorido escolhi Kings of Convenience, para o descanso romântico e “love making” foi Mogwai, ambas bandas que já ouvi ao vivo em Paredes de Coura. Esse ano de festival marcou-me mesmo. Postrock é óptimo para relaxar, como música de fundo, para libertar os pensamentos. E Mogwai é bem mais calmo do que Explosions in the Sky para manter um clima romântico. Hoje de manhã comecei por Faith No More e mais tarde, depois do pequeno almoço, enquanto lia Nietzsche, Tomahawk. Grandes bandas do génio Mike Patton. E na viagem de volta, Bad Religion para ajudar a ver bem a estrada abraçada por chuva e nevoeiro.

Acho que é fixe documentar isto. Passei muito tempo sem ouvir música, às vezes pensando que não gosto assim tanto de música e ser essa a razão para não ouvir. Ainda bem que voltei, ajuda-me a colocar um “mood” que acho certo para a ocasião. Estou a escrever isto em total silêncio. O que hei-de escolher para seguir o resto do texto? Deixa-me ver… algo electrónico? Aphex Twin? Não conheço praticamente, quando esteve no Primavera escolhi ir ver outra banda que quase não tocou por causa de problemas técnicos no palco. Qual era a banda… Ficou-me a apetecer ouvi-los a eles em vez de Aphex. Vou pesquisar rápido, não saias daí, tu que sou eu. The Black Angels. Na minha pesquisa percebi que nesse ano também estava Mitski, artista que só conheci recentemente e não sei se é bem a minha cena, acho que não é mas ainda vou dar mais uma oportunidade. Vou abrir o Tidal.

Agora acompanhado de música, vamos ver o que sai do meu cérebro. Talvez seja uma boa altura para fazer umas considerações sobre os pensamentos de Nietzsche. Do livro “Man Alone with Himself”, capturei algumas citações das quais vou tentar tirar algum raciocínio do meu lado.

“Loyal to their convictions. The man who has a lot to do usually keeps his general views and opinions almost unchanged; as does each person who works in the service of an idea. He will never test the idea itself any more; he no longer has time for that. Indeed, it is contrary to his interest even to think it possible to discuss it.”

Traduzindo à minha maneira:

“Leal às suas convicções. O Homem que tem muito a fazer normalmente mantém os seus pontos de vista e opiniões inalterados; tal como faz qualquer pessoa que trabalhe ao serviço de uma ideia. Ele nunca mais testa a ideia em si, já não tem tempo para isso. Na verdade, pensar que é possível discuti-la vai contra os seus interesses.”

Talvez concorde. Quando chegamos a uma ideia (e quando chegamos lá sozinhos ainda mais, como Nietzsche escreve mais adiante) tendemos a mantê-la se não nos dermos espaço para a desconstruir. Fica na gaveta, vamos à nossa vida e quando surge alguma necessidade de a recuperar, está lá ela inalterada e a cheirar a mofo. O Homem que esteja sempre a bisbilhotar as suas gavetas mais facilmente as refresca. E quem trabalha a serviço de uma ideia, quem tem um objectivo firme ou um propósito delineado, mais investido ainda está em não a alterar. Voltar a pensar nela será voltar atrás, pôr em causa o seu próprio desígnio. 

“Wanting to be loved. The demand to be loved is the greatest kind of arrogance.”

Traduzindo à minha moda:

“Querer ser amado. Exigir ser amado é o maior tipo de arrogância”

Esta bateu fundo em mim. Voltando ao primeiro capítulo deste diário, onde falo em como quero que a minha escrita seja reconhecida, vença prémios, tenha admiradores. É mesmo uma maneira arrogante de pensar. É achar que tenho algo em mim melhor ou diferente o suficiente que diga algo a alguém sem ser a mim. E com que autoridade é que posso achar isso? Com nenhuma. O primeiro passo é admitir, e admito aqui que sou arrogante em muitos aspectos da minha vida. Pode não parecer, mas quero muito ser amado e reconhecido. Acho que até escondo bem dos outros e quem vê de fora pode pensar que não me importo com reconhecimento. Já me disseram que sou humilde e levei como insulto. Não deveria, agora vou tomar como objectivo.

“Unhappiness. The distinction that lies in being unhappy (as if to feel happy were a sign of shallowness, lack of ambition, ordinariness) is so great that when someone says, "But how happy you must be!" we usually protest.”

Traduzindo de uma forma que consigo:

Infelicidade. A nobreza de ser infeliz (como se estar feliz fosse um sinal de superficialidade, falta de ambição, ordinariedade) é tanta que quando alguém diz “Deves estar tão contente!” normalmente protestamos.” 

Concordo tanto com isto. Quando nos sentimos mais felizes, confortáveis, preenchidos é quando mais duvidamos de nós e das razões para o sermos. Acho que há uma parte de nós que assume que estamos a ser ignorantes. Ignorância é uma benção, então se nos sentimos bem é porque nos falta informação ou algo que devemos almejar. No entanto, acho que é necessário para a nossa evolução termos estes sentimentos, de outra maneira éramos todos homens das cavernas satisfeitos por termos caçado um mamute. Só estamos bem onde não estamos, como dizia António Variações.

“Self-enjoyment in vanity. The vain man wants not only to stand out, but also to feel outstanding, and therefore rejects no means to deceive and outwit himself. Not the opinion of others, but his opinion of their opinion is what he cares about.”

Traduzindo para a minha língua:

“Auto-satisfação na vaidade. O homem vaidoso não quer apenas destacar-se, mas também sentir-se excepcional, e por isso recusa todos os meios que o enganem ou iludam a si mesmo. Não é a opinião dos outros, mas sim a opinião sobre a opinião deles com que ele se preocupa.”

Vou ser sincero, não percebo bem a primeira frase, mas a última teve algum efeito em mim. Acontece eu estar mais importado com a minha reação às reações dos outros do que o que eles realmente pensam de mim. Não quero realmente saber o que os outros pensam de mim se nunca me causar um pensamento sobre o que eles pensam. Gostava de de explicar melhor, acho que ainda tenho alguma reflexão a fazer sobre este tema. A revisitar.

“Danger in multiplicity. With one talent the more, one often stands less secure than with one talent the less: as the table stands better on three legs than on four.”

Traduzindo às três pancadas:

“Perigo na multiplicidade. Com um talento a mais, ficamos menos confiantes do que com um talento a menos: como uma mesa que se segura melhor em três pernas do que em quatro.”

Interpretei isto como uma questão de confiança. Acho que não é o intuito do autor mas eu levei para o lado que fez clique em mim. Quanto mais coisas diferentes tentarmos ser, menos capacidade temos para perseguir cada uma delas. É difícil sentirmo-nos confiantes numa nova faceta da nossa vida e quanto mais nos desdobrarmos menos foco em cada uma das partes vamos conseguir alocar. Talvez possamos ir engordando as 3 pernas essenciais, todas ao mesmo tempo para não criar desequilíbrios, em vez de criar novas.

“Model for others. He who wants to set a good example must add a grain of foolishness to his virtue; then others can imitate and, at the same time, rise above the one being imitated - something which people love.”

Traduzido do inglês:

“Modelo para os outros. Aquele que quer dar um bom exemplo deve adicionar um pouco de estupidez à sua virtude; assim os outros podem imitar e, ao mesmo tempo, fazer melhor do que o que está a ser imitado - isto é algo que as pessoas adoram.” 

Só tenho uma questão, devemos fazer isso conscientemente? É que não consigo pensar em nenhum bom exemplo que não seja em grande parte estúpido e que não possa ser melhorado. Acho que faz parte de todas as ideias ou imagens modelo, todas elas podem ser melhoradas.

Bem, isto deixou-me cansado. Não sei muito bem porque o fiz, mas foi um bom exercício, tanto de escrita como de pensamento. E estou a resistir à ideia de tornar este tipo de análise ou comentário uma coisa recorrente. Este diário serve para explorar de tudo um pouco, sem compromissos. Vou ver se ainda tenho energia para escrever os episódios do podcast. Até amanhã.