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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

31 de Janeiro, 2022

Votar, inocular e resultado eleitoral

Bruno Gouveia

Escrevo esta entrada com um bocado de atraso. Ontem fiquei a acompanhar a noite eleitoral até às tantas e não tive tempo para escrever. Escrevo hoje que não tem mal.

O penúltimo dia de Janeiro podia ter sido melhor do que foi. Tinha a vacina, dose de reforço, marcada e estava a contar que o dia fosse de votação e inoculação. Apenas consegui cumprir parte. Quando cheguei ao centro de vacinação da Maia, que agora ocupa um antigo complexo de ginásios, esperei na habitual fila e tive a primeira surpresa do dia: já não havia vacinas. Dava para perceber, pelo que os funcionários iam dizendo, que era uma falta generalizada e que o país não tem doses suficientes para todos. Os jornalistas andam demasiado ocupados com eleições para reportarem estas coisas “menores”. Pediram-me o meu contacto telefónico e ficaram de me contactar para remarcar a terceira dose.

A outra parte, a da votação, correu melhor. Foi um bom pretexto para dar um passeio em família. Lá fomos nós, eu, a minha namorada, o pequeno Gaspar e a cadela Leia. O acto eleitoral decorreu com normalidade e tive uma experiência  inédita na minha vida como eleitor, participei numa sondagem à boca das urnas. Nunca tinha participado em nenhuma, até tinha dúvidas se existiam mesmo ou se era tudo inventado. Ao sair da escola onde votei, um senhor interpelou-me e perguntou se queria participar na sondagem. Prontamente disse que sim e preenchi um boletim, em tudo igual ao oficial menos na cor (este era verde). Deixei assinalado o meu voto no Livre que, no fim das contas, não foi suficiente para eleger um deputado pelo Porto.

O resto do dia foi produtivo, consegui escrever alguns episódios para a terceira temporada do Cai Neve, reaproveitando algumas ideias que não tinha conseguido encaixar nos episódios anteriores.

Já depois de jantar, começaram a surgir na televisão as primeiras projeções que davam uma maioria forte ao PS. A maioria absoluta era já possível nessa altura, porém ainda uma possibilidade algo remota. Eu, votante do Livre, estava a torcer para a chamada eco-geringonça. Já assumia que era difícil haver acordo do PS com o BE e CDU depois do chumbo do orçamento do ano passado. Ao avançar da noite eleitoral, foi sendo cada vez mais notório que o Costa não ia precisar de mais ninguém para governar. Fico desiludido, acho que vão ser quatro anos pobres politicamente.

Por outro lado, vai ser interessante ver como os (muitos) partidos derrotados se vão recompor. O Rio deixou a entender que já deitou os últimos cartuxos e muitos militantes vão, com certeza, fazer o choradinho para o regresso de Passos. Considero que Rangel não vai ter condições políticas para liderar o partido, visto ter perdido com o grande derrotado. Perder com quem perde não dá grandes sinais de força. O bloco também precisa de refrescar a sua liderança mas Catarina Martins não parece dar sinais óbvios da sua retirada e acho que ainda é cedo para Mariana Mortágua fazer movimentações. O PCP sai também em maus lençóis, não tão maus como o BE, mas os suficientes para procurar em João Oliveira um fiel substituto. Os Verdes e o CDS desaparecem, tendo este último a possibilidade de ter Nuno Melo como líder e carrasco do partido. O PAN também precisa de uma mudança de rumo e de se afirmar num espectro político, a sua elasticidade parlamentar não o favoreceu e não parece ser com Inês Sousa Real que alguma coisa seja diferente.

Para concluir, o que desejo para o Livre é que consiga, nos próximos quatro anos, aproveitar-se da arrogância de Costa. Ir buscar aos múltiplos erros que o governo irá com certeza cometer (se sem maioria manteve o Cabrita, podemos prever que com maioria vamos ter desastres ainda maiores) oportunidades para persuadir os eleitores que fugiram do PCP e do BE e que nestas eleições votaram no PS com medo de uma maioria de direita.

28 de Janeiro, 2022

Interregno

Bruno Gouveia

Passei um dia sem escrever, ontem. E no dia anterior escrevi pouco e sem interesse. Desculpo-me com o cansaço e depois sinto-me culpado por não estar a conseguir atingir os meus objectivos. Depois penso que os objectivos não interessam e que estar a escrever esta bodega não serve propósito nenhum. Está angústia alastra-se a tudo. Já penso em desistir da série Faculdade, já nem leio mais nada que não seja banda-desenhada. Penso no que a terapeuta disse, para ser flexível com os objectivos e para não deixar o descanso para segundo plano. Talvez tenha razão mas custa-me na mesma. Parando com as lamúrias, deixa cá ver se me lembro do dia de ontem.

 

O Gaspar fez 15 dias. Está mais pesado mas não o medi, não sei se está mais comprido. Continua a fazer o tempo passar em flecha. É como uma máquina do tempo, aceleradora de vidas. A quantidade de músicas com cocó que lhe canto para o tentar, sem sucesso, adormecer aumentou. Hei-de gravar algumas das canções de embalar parvas para ficar para a posterioridade. Pode ser que me torne o Papá Balbucios, um Avó Cantigas em versão deprimente.

 

Falar no Avô Cantigas faz-me pensar na capacidade que as pessoas têm de não sentir vergonha delas próprias. Os músicos, políticos e muitas mais profissões que requerem exposição pública deixam-me espantado. Eu nunca conseguia perder a vergonha na cara. As figuras que fazem em frente a milhares de pessoas dão-me ansiedade. Invejo-os. Há coisas que deixo de fazer só com o receio do que vão pensar de mim, mesmo sabendo que toda a gente se está bem a cagar para o que eu faço ou deixo de fazer, tal como eu também estou para o que os outros fazem. Acho que quero escrever um blogue mas não sei deva usar um pseudónimo ou o meu nome real. Não devia ter medo não é? Ainda não estou pronto. Expor os meus pensamentos é um tema muito sensível. Talvez um dia.

 

Agora falando do dia de hoje, está a ser atribulado. De manhã fui à loja do cidadão para fazer o cartão de cidadão do miúdo (já tinha ido ontem mas quando lá cheguei já não haviam senhas), esperei mais de uma hora pela minha vez e quando fui atendido o senhor indicou-me que se o bebé não for presencialmente tirar a fotografia o cartão irá demorar até dois meses para chegar, enquanto que se levar lá a criança deve demorar duas semanas. Voltei a casa, peguei na mãe e no filho e lá voltei. Pedimos prioridade, aproveitamos que o garoto tinha fome e estava acordado para tirar a foto e resolveu-se o assunto. Voltamos a casa, almocei e tirei uma desta no sofá e voltamos a sair de casa para vir ao centro de saúde para lhe dar a vacina da BCG. Está é a vacina que tivemos de fazer marosca, seguindo sugestão da enfermeira, para ter direito. Como não vivemos numa zona de risco elevado de tuberculose, tivemos de dizer que no primeiro ano de vida o bebé iria ficar em casa da avó que vive no Porto, conselho que já tem o risco elevado.

 

Toda a gente está com Covid. Vários colegas da minha namorada e uma colega minha. Uma amiga minha, que vive ao pé do centro de saúde e queríamos aproveitar a vinda ao Portos para estar com ela, também apanhou. Colegas da minha mãe e dos meus sogros. Queríamos partilhar a presença do bebé com familiares e amigos mas assim não dá. 

 

Ao fim do dia ainda temos a consulta no pediatra. Estamos artilhados com perguntas para lhe fazer. Todas elas devem ser triviais, mas como pais de primeira viagem precisamos de tirar esclarecimentos de tudo. A descamação da pele é normal? E o umbigo ter sangue? E as pintinhas no nariz? E os movimentos que faz com a cabeça? Deve ser tudo normal mas, como não sabemos, para nós é tudo sintomas de esclerose múltipla amiotrófica ou coisa parecida.

 

Se chegar acordado à noite, vou voltar ao ataque. Já passaram duas semanas desde que deixei o guião da Faculdade a demolhar. Agora é ir lá ver a cagada que fiz e desanimar-me por não ter piada nenhuma. Não sinto inspiração para escrever piadas. Quero reformular a cena em que o Guilherme parte a perna da cama de Rui mas não encontro uma situação melhor nem consigo tornar aquela mais engraçada. Tenho de polvilhar mais piadas, do que me lembro do texto não tem muitas. Tem a do papel com franjas mas acho que preciso de mais. Alguma coisa deve acontecer no bar que seja realmente engraçado. Um diálogo com a barmaid ou assim. Já tenho muito em que pensar até lá. Vamos ver como corre.

27 de Janeiro, 2022

Mandalorian

Bruno Gouveia

A noite foi difícil, o miúdo decidiu mijar a roupa toda e berrar ao ser trocado. A manhã não foi melhor, senti-me meio deprimido e custou-me a sair da cama. Arranjei força lá para o meio dia e consegui tratar de umas coisas em casa. Ainda aproveitei a tarde.

Acabei de ver After Life. Não fiquei mega fã mas gostei no geral. O final foi bittersweet e concluiu a história de uma maneira satisfatória, tirando alguns pares românticos que foram muito forçados. Também terminámos a segunda temporada de How To With John Wilson. O episódio 4 e 5 da segunda temporada foram muito bons, o último já não achei tanta piada. No geral, a primeira temporada é melhor.

when-does-the-mandalorian-take-place.jpg

Vimos o quinto episódio do Book of Boba Fett. Foi o melhor episódio da série porque foi um episódio de Mandalorian, o Boba nem sequer apareceu. A série é medíocre e a única coisa que justifica vê-la é este episódio. Boa lição sobre o que não fazer, que venha a terceira temporada do Mando.

25 de Janeiro, 2022

Amor Lamechas

Bruno Gouveia

Hoje é dia de resumo da semana. Como tive a terapia às 14, ao invés das habituais 19, não consegui fazer o meu balanço semanal. Faço-o agora à noite. Então, dos meus objetivos para a semana que findou, consegui submeter a requisição para a licença na segurança social, criei uma conta num banco sem taxas, agendei a recolha de monstros, enviei e-mails para orçamento de obras em casa, painéis solares e calcetagem. Não terminei tudo o que queria mas estou no bom caminho. Amanhã já trato do CC e de ligar para quem falta. Terminei dois livros, não acabei o soneto do Gaspar e cumpri as 300 palavras por dia. Foi uma semana assim assim.

Na sessão de hoje consegui esboçar um plano para a minha vida. Acho que fiquei entendido com o meu desejo de tirar uma pós-graduação ou mestrado em algo relacionado com guionismo e audiovisual. Vou aproveitar este diário para fazer uma tabela comparativa das várias opções. Defini que quero procurar outro trabalho, mas ainda não sei se vou conseguir trocar. Queria uma experiência nova mas talvez vá ter isso com o desafio académico. Primeiro escolho o mestrado, depois arranjo o meu CV (vou ter de o fazer de qualquer maneira, para me candidatar) e por fim pesquisar empresas.

Curso

Prós

Contras

Datas

Pós-graduação em Storytelling

Bom para networking, ligado a empresas (sic e SP)


Focado em escrita para audiovisual


Pós-laboral

Em Lisboa

Candidaturas:  1 de junho a 6 de julho (ano 2021)

Pós-graduação em Dramaturgia e Argumento (Pós-Laboral)

No Porto


Pós-laboral

Não me atrai a dramaturgia

 

Mestrado em escrita criativa

Cadeiras opcionais, tanto para escrita de argumento como para escrita narrativa


Instituição reputada

Em Coimbra


Não é pós-laboral



2ª Fase: 1 de junho a 23 de julho de 2021

3ª Fase: 1 a 10 de setembro de 2021

Mestrado em cinema

Possibilidade de estágio ou desenvolver projecto final


Pós-laboral



Muito técnico

 

O Gaspar engordou 300g numa semana, fomos hoje pesá-lo ao centro de saúde. Ele está a ficar ainda maior e rápido! Com este andamento, daqui a um mês, está a produzir álbuns de hip-hop. Digo isto porque ele parece um MC com o pequeno gorro e body. Tivemos um momento muito giro, eu e a minha namorada cantámos Da Weasel, Re-tratamento para o adormecer, fizemos um karaoke. Ele só fez caretas enquanto libertava gases e defecava, mas foi belo na mesma.

Nas leituras, continuei o Ultimate Spider-man. Estou a perder o gosto aquilo, tanto a trama da Silver Sable como do Deadpool estão-me a aborrecer. Vou continuar, quero ver como aquilo acaba. Ouvi dizer que o aranhiço morre, deve ser giro.

24 de Janeiro, 2022

Transe

Bruno Gouveia

Hoje entrei em transe. Ou o que acho ser transe. Depois de um ataque de claustrofobia, acho eu que era claustrofobia, pelo menos foi o que senti no concerto dos Arctic Monkeys no Super Bock Super Rock. Senti uma corda ao pescoço, primeiro parecia ser só uma batata frita mal engolida mas depois percebi que era mais que isso.

Sentei-me na cadeira de baloiço, entrelacei as pernas por cima do sofá, pedi à minha namoradapara ligar o Tidal na TV e por o álbum de Pálidos a tocar. Fechei os olhos. Comecei por imaginar quadrados e círculos numa dança alucinogénica. Percebi que estava a imaginar em duas dimensões e que isso é muito pouco. Os quadrados transformaram-se em cubos e depois em cristais coloridos e caleidoscópicos. Círculos tornaram-se mares de arames que eu desviava como quem desvia aquelas cortinas anti-moscas que os avós da minha prima tinham na casa de campo. Depois deixei de sentir o corpo. Vieram-me memórias à cabeça. Das mais traumáticas. Maioritariamente de infância: lutas na primária; ser roubado por amigos do bairro; um gandulo vizinho a mostrar a pila entalada no elástico das calças quando levantava a camisola; a mesma pessoa a maltratar uma gata e ficando ensanguentado nas mãos enquanto a rodopiava e a atirava contra uma parede; roubarem-me a carta do Charizard; não acreditar que uma colega do nono ano gostava de mim; chamarem-me copinho de leite e outras memórias, as piores da vida, que ainda não tenho maturidade para falar nelas ou as escrever.

Quando acordei não sentia o meu corpo. Só imaginava que as minhas pernas suspensas deveriam estar completamente dormentes mas não as conseguia mexer. Só conseguia grunhir, nem os lábios se moviam. Aos poucos, como se estivesse a descolar de uma caderneta de cromos, fui mexendo a boca e lá consegui desbloquear o resto do corpo.

 

Os barulhos do Gaspar fazem lembrar os sons de jogos de 8 bits. Acho que conseguia sonorizar um Super Mario só com samples dos pequenos grunhidos dele.

 

Acabei o “Operating Instructions: A Journal of My Son's First Year”. Não foi incrível, um bocado repetitivo e com religião chalupa a mais, mas foi interessante ler algumas experiências que me esperam. Voltei à banda desenhada, vou acabar o Ultimate Spider-man que deixei a meio. O que é fixe para o meu objectivo do Goodreads, como está partido em vários volumes, cada volume conta com um livro dos 52 que me comprometi a ler. E não tem porque não contar. Acho que vou intercalando os vários volumes com outras coisas, para não me massar. Também quero voltar aos romances de Star Wars, High Republic. Tudo a seu tempo.

23 de Janeiro, 2022

Abalado

Bruno Gouveia

Sinto-me a perder motivação. Comecei por traduzir três parágrafos de um conto que escrevi para um curso de escrita criativa e cansei-me. Pesquisei como publicar um conto e assustei-me. Talvez isto não seja para mim. Começo a pensar em desistir. Estou cansado e não vejo a luz ao fundo do túnel. Quando voltar ao guião da série, será que vou ter vontade? Realisticamente, qual é a probabilidade de conseguir alguma coisa com aquilo? Ainda vou precisar de anos a melhor a coisa antes de a apresentar a alguém. E fazer isso enquanto trabalho e construo uma família. Parece que tudo me cansa, eu canso-me facilmente. Dá-me vontade de jogar computador ou consola e sei que se o fizer, tirando ocasionalmente com os meus amigos, vou deixar tudo para trás e ceder ao vício. Mas vou trabalhar com mais afinco, como dizia o cavalo do Animal Farm. Pelo menos hoje. Só penso na caminha.

Hoje não se passou nada de especial. Dormi quase até ao meio dia. Comecei a ler banda desenhada do Moon Knight, por causa do hype da série. Conheci uma banda portuguesa nova e estou a gostar de ouvir, os Pálidos, sugeridos por aquele senhor que tem uma rubrica de geopolítica aos domingos na Sic Notícias, depois de almoço. Vi mais uns episódios do After Life, do Ricky Gervais, mas não estou a achar muita piada à segunda temporada; A personagem principal parece já não estar tão bem definida e começa a esbater-se. As conversas com a senhora no cemitério não servem para grande coisa, parecem um resumo do episódio que estamos a ver. Os romances são metidos à força. Enfim, estou a perder o interesse. Por falar em perder o interesse, também me estou a aborrecer com o livro que estou a ler, o Operating Instructions. Aborreço-me e fico preguiçoso, não me apetece mexer.

Amanhã tenho de voltar à carga e tratar de assuntos para a casa e para a família. Acho que não vou conseguir acordar para ir fazer o cartão de cidadão, mas espero estar enganado. Pode ser que venha uma força extra e me leve lá. Fico a torcer.

23 de Janeiro, 2022

Escrita automática

Bruno Gouveia

Tentei escrever vinte minutos, automaticamente, como sugeriu Ricardo Araújo Pereira. Não saiu bem. Ora vê:

 

Lalalalala não sei o que hei-de escrever. Estou no modo escrita automática. Vou tentar isto por 20 minutos né? Vamos ver, tenho de acabar às 1 e 5. Hm.. em que é que estou a pensar? Sei lá. Era uma vez um trovador que tinha lombrigas e sabia a tabuada dos 87 de cor e salteado. Salteado de espinafres. Guarnição pequena. Ai como é que era aquilo. Entulho e gorgulho, já não sei

 

Entulho e gorgulho

 

Será nome para blogue? Vamos ver no que dá.

Acho que isto vem de uma memória de alguns almoços do secundário, quando íamos comer ao Burger Ranch. No talão vinha lá aquele nome da empresa e sempre achei estranho. Acho que nunca soube o que quer dizer gorgulho. É hoje que vou descobrir. Mas antes disso, deixa imaginar o que é. Será um saco de massa? Massinhas letrinhas ou pevides? Ai pevides.

 

Adorava comer pevides que a minha ama me dava. Ela secava-as e eu passava na marquise a comer pevides, directamente da toalha estendida no chão.

 

Olha, posso adicionar este detalhe à história do amolador. Será que porque pensei nisso há pouco me surgiu esta ideia? Não sei. Já me doem os dedos. É deste teclado que não é ergonómico para escrever. Queria colocar o outro mas já falei disto noutro texto. O que é que hei-de fazer com a minha escrita?

Não sei se quero fazer um blogue, sinto-me muito exposto. Mas posso sempre usar um pseudônimo. Pode ser. Será que devia continuar o podcast? Talvez, mas não tenho tido ideias.

Hoje tive a ideia do homem-vagina. Será que isso pode ser uma ideia para uma radionovela? É possível.

 

Homem-vagina. Preciso de um conflito para ele, e isso talvez inclua um vilão. Nem sei. Hm… Deixa cá ver. O que é que uma vagina tem como dificuldade? Candidíase? Depilação? Não sei. Será que o Spike pode ser um vilão? Um gajo que se transforma em agulhas? Ai as minhas artroses. Se não estivesse já todo lançado a escrever esta merda ia já trocar de teclado. Caralho, foda-se, puta que pariu, piças piças piças, cona cona cona

 

Ai para onde vou agora? Tenho o homem-vagina e o Spike como inimigo. O vagina homem engole o spike sem saber que ele se transforma em agulhas e ele, lá dentro, para se safar, transforma-se em ouriço e fura o vagina homem todo? Não sei se é interessante. Acho que o homem vagina não passa disto. Pode ser um episódio talvez. Mas até queria experimentar desenhar qualquer coisa. Não tenho jeito nenhum mas wtf. Nem sei o que digo. Será que o quê? Estou a ouvir a barbara tinoco mas já me fartei. É giro e tal a voz dela meio criançuda mas cansa rápido. Agora gostava de estar a ouvir Rui Veloso. Posso mudar? Ou  não posso largar estas teclas duras e altas? Duras e altas as putas de merda.



E é isto uma torrente de pensamento sem critério. Ainda tenho 13 minutos para dedilhar. Do que posso falar agora?

 

De um cidadão do mundo que caiu numa panela radioactiva e ficou com orelhas de burro. Agora toda a gente goza com ele. Também não tem piada. Não tenho jeito para isto da escrita. Que faço eu? É tão frustrante. Será que devo insistir? Estou quase, ja passou 25% do tempo da escrita automática.  Também é possível que este processo não sirva para mim. Dei agora o olho no texto que estou a escrever só para garantir que estou a usar o teclado português. E estou. Mas este teclado nem tem o layout tuga, então não vejo as teclas desenhadas. Mas continuo a olhar para elas. Só para ter algo em que me focar. O meu pensamento foca e desfoca num dedilhar. Ainda bem que escrevo rápido.

 

Isto é impublicável né?

 

Vai um homem a subir o monte, encontra uma ruiva no topo da montanha. Era um monte ou uma montanha? Sei lá, era qualquer coisa alta. Porquê uma ruiva? Porque não. Lembrei-me, não preciso de justificar. Caralho para a Tinoca com merdas sobre crianças pseudo-poéticas. Foda-se, deixa-me mudar a música, não aguento mais isto. Pleassse. Devia ter escrito Pleaasse. Acho que me esqueci do E. Sei lá. Isto é tudo lixo, não vou conseguir aproveitar ideia nenhuma. É muita pressão fazer isto. Vou dar um gole e mudar a música, tá bem?

 

Mudado e bebido. Coloquei o primeiro álbum do Rui, acho que nunca ouvir, vamos lá. Roendo uma laranja na falésia. Boa. Estou a gostar. Mas com letra não consigo concentrar-me para escrever nada criativo.

 

Voltando ao homem-vagina, porque é que estou a bater nesta tecla? Por ter visto a vulva da minha namorada tomar proporções inusitadas? Gigantescas? Parecer um vulcão em ebulição?

 

Não sei. Mas havia um pessegueiro na ilha. De Odemira ou lá o que é. Será que faz sentido o que o gajo está a dizer? Acho que não, mas teve sucesso. Como é que parto daqui? Só me apetece chorar com esta frustração de tentar ser escritor e não conseguir. Não sei para onde posso ir. Estou triste. Muito triste, sou uma merda. O que faço? Não tenho sentimento nem sentido, sentimento tenho, sinto-me mal queria escrever sentido ou propósito. Mas indo pelo absurdismo, nada tem propósito. Só gostava de fazer coisas que me fizessem sentir bem. Preciso de um projecto.  Ah, posso aproveitar os 7 minutos que faltam para um brainstorm sobre a cena de partir a perna da cama. Acho que não é uma boa cena. Sei que devia ter alguma distância sobre o que escrevi para o observar com novos olhos, mas acho que posso ir pensando numa alternativa.

 

O que é que o Guilherme pode fazer ao tentar ajudar o Rui? De…

 

Engasguei-me com aguardente. Acho que já estou a beber demais. Vou parar.

 

Mas o que é que o Guilherme pode fazer então para criar animosidade e ao mesmo tempo arranjar uma solução em cima do joelho que demonstre que até tem espírito de amizade? Não sei, precisava de parar para pensar e a escrever sem parar não consigo fazer isso. É demasiada pressão.

 

Não sei se volto a fazer este exercício, é demasiado caótico, até para mim.

 

Mas vamos ver o que sai. Precisava de pensar, por a mão no queixo e assim. Uma cena mesmo à pensador, para me sentir pseudo intelectual ou qualquer coisa.

 

São só rabiscos cheios de erros. Nem devia, devia ter melhor dactilografia

 

E o acordo ortográfico? É uma merda né. Foda-se para ele, acabem com esta merda.

 

Vou votar no Livre, não sei se quero escrever muito sobre isso, ou será que quero, consigo listar as razões para votar no livre?

 

Pá, é progressista. O bloco é demasiado radical, parece-me. Recusa sequer trocar duas de letra com alguém de direita so por ser de direita. Acho limitador e infantil. Pá, tentem entendimentos com todos. Estar a fechar portas é uma merda. Até o PAN tem uma posição melhor.

 

Mas pronto, o Livre, apesar de ter medidas muito despesistas, tem ideias para o futuro da sociedade, e acho que é aí que se deve investir, não no passado . Vamos pra frente, reduzir o trabalho, aumentar a cultura, ter uma sociedade mais ociosa, criativa, rica, educadora, feliz. FELIZ! Ninguém é feliz a trabalhar. Ou muito pouca gente o é. Eu não sou, só me apetece despedir, mesmo. Mas não posso fazer isso agora que sou pai. Ou até podia, se as ações valessem mais. Não tenho grandes ideais. Estou numa das empresas que está na raiz do problema e quero lucrar com ações e criptos e mercados financeiros. E só me sai mal. É triste né? Depois digo que sou de esquerda. Mas eu não preciso ser coerente. Não faço disto vida. Não faço de nada vida na verdade. Nenhum de nós faz. Somos todos hipócritas e não sabemos o que andamos aqui a fazer. Só a passar o tempo da melhor maneira possível. So it goes…

22 de Janeiro, 2022

Barrigada de riso

Bruno Gouveia

Inventei um super-herói. O Homem-vagina. Super-herói que se veste com um fato e um capuz com folhos. O capuz tem uma bola vermelha na ponta que imita o clitóris. O super-poder dele é ser elástico, como uma vagina, e assim "engolir" os seus inimigos. Tem a capacidade de produzir fluidos ácidos, cuspindo-os à distância ou usando-os para desfazer os inimigos que engole. A bola que usa no topo do capuz é um instrumento tecnologicamente avançado e muito sensível que vibra com qualquer alteração de pressão atmosférica, dando-lhe a capacidade de antever os movimentos dos adversários.  Não tem uma origin story, só para desafiar as expectativas, por mais razão nenhuma. E está ok. Para financiar a sua actividade de vigilante, o Homem-vagina faz anúncios para uma empresa de produtos de higiene feminina. Um possível conflito é que os executivos da empresa tentam influenciá-lo a salvar mais mulheres para o aproximar, a ele como marca, ainda mais do público-alvo. Não tem identidade secreta, toda a gente sabe quem ele é e existe desde sempre, é uma constante do universo.

Inventei isto no banho. E o que lhe faço? Deixo aqui. Poderá ser um episódio do podcast ou uma banda-desenhada. Mas eu não sei desenhar. Fica a marinar. Ah, fiz uma dad joke:

Sabem como se chamaria a moeda oficial da Espanha se deixassem o Euro e começassem a transacionar bens e serviços com o recurso a gases intestinais?

.

.

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Pusetas.

 

E foram estes os momentos criativos do meu dia. Mais pontos altos… O bebé continua bem, mais ou menos na mesma. Agora falo bastante com ele, sobre a capacidade de ele se peidar e fazer quase tanto barulho como eu com os meus gases, apesar de ter um quinto do tamanho do olho do cú. Emocionei-me a olhar para ele - para o bebé, não para o olho do cú - e a pensar que ele será uma pessoa, com vontades, amores, desamores, gostos, ódios, uma vida. Termos a capacidade de replicar a experiência humana em outro ser é maravilhoso. Nunca pensei ficar afectado desta maneira. Acho que é o instinto de procriação que me faz sentir assim. E ainda bem, sabe bem e dá um propósito biológico à nossa existência. Claro que, no fim das contas, nada disso interessa. Ao menos ocupa-nos o tempo com quentinho no peito.

Fora isso, vi o Inside do Bo Burnham. Não sei se é um filme, um especial de comédia, um documentário, um musical ou tudo isso misturado. É filosófico, é absurdo, é engraçado, é empático e era um desconhecido para mim até agora. Ainda vi o Make Happy a seguir, não achei tão inspirado, mas foi bom na mesma. Começo a pensar que quanto mais danos psicológicos uma pessoa sofre, mais criativo fica. É o velho ditado do quão mais génio, mais doudo, e vice-versa. Agora fico curioso para ver o filme que ele escreveu e realizou, o Eight Grade.

21 de Janeiro, 2022

Cabide humano

Bruno Gouveia

Hoje fui praticamente um cabide para bebés. Passei imenso tempo a segurar no bebé. Vi o “Don’t look up” e odiei o filme. Tivemos de saltar algumas partes de tão mau que estava o filme. Para já, tem uma hora a mais do que devia, com personagens que não têm qualquer interesse. A Meryl Streep tem uma prestação horrível, a realização é “all over the place”, sem qualquer estilo que define o filme.

Acabei de ler o Waiting for Godot e vi uns quantos vídeos de youtube a interpretar a peça. Não andei muito longe com a minha ideia de Godot ser o sentido da vida e de tirar um sentido da peça vai contra o que a peça quer afirmar, que a busca incessante de propósito não faz sentido, nunca o vamos encontrar, não há nada que nos satisfaça. Resta-nos viver no absurdo. Acho que para a próxima leitura vou ao Mito de Sísifo, do Camus, e depois vou dar uma pausa no absurdismo. Acho que pode estar na altura de abordar outros temas.

Tirando isso, foi outro dia que fugiu. De manhã consegui aproveitar para dormir até às 11 e levantar-me apressado para a sessão vídeo com alguém da segurança social, para entregar o requerimento de licença. A senhora não me conseguia ouvir bem então fizemos uma chamada por telefone, mantendo a câmera no computador. Foi estranho. Ela ajudou-me e os papéis estão entregues.

Pensei um pouco sobre o papel do trabalho em mim. E dou por mim a não querer analisar demasiado. Já decidi que o vou continuar, que a sobrevivência da minha família depende dele e não posso ser egoísta ao ponto de o abandonar. O que posso fazer é procurar alternativas, dentro da mesma área, que não me obriguem a mudar de carreira. E acho que é isso que vou explorar, começar a mandar CVs. Provavelmente não vou conseguir fazer carreira da escrita ou do audiovisual. E tenho de começar a aceitar isso. Ou não e arrisco. Ou acho um entremédio. Acho que ainda estou confuso. Tenho de definir as minhas hipóteses.

Agora que terminei o relato do meu dia, penso que estou a ficar muito agarrado a este formato de diário. Posso estar a perder alguma criatividade quando isto apenas serve para enumerar os acontecimentos do dia-a-dia. Alguns dias não têm qualquer interesse e são só mais do mesmo. Preciso de complementar com alguma coisa. E, começando amanhã, vou traduzir o meu conto da cigana Cidália para português e ver se perde alguma da magia ou se, pelo contrário, fica mais brilhante. Depois logo se vê o que fazer com ele.

20 de Janeiro, 2022

Dia fugido

Bruno Gouveia

Sim, eu sei. Ontem não cumpri o meu objectivo das 300 palavras. E sinto-me pior por arranjar desculpas do género “mas nos outros dias escrevi muito mais, por isso em média cumpri o objectivo”. Não, não estou a ser exigente. E sinto-me cansado e acho que me sinto cansado de me sentir cansado. Não é tarefa fácil tratar de um recém-nascido mas também não devia ser tão difícil.

Parece que os dias escapam por entre os dedos. Hoje levantei-me; fiz o pequeno almoço; dei comida à cadela; li um pouco do Operating Instructions, de Anne Lamott; vi o debate das legislativas na rádio enquanto apanhava sol; enojei-me com o António Costa a atacar o Rui Tavares sem razão, por defender investigar energia nuclear que é uma coisa que o próprio governo já contribui, e no fim do debate ainda se fez de vítima a dizer que foi atacado quando foi ele próprio que puxou o tema para ver se saca uns votos ao Livre, manipulador de merda; estive com o bebé ao colo durante umas horas enquanto a minha namorada fazia o almoço e eu via After Life, a série do Ricky Gervais, estou a gostar, já tinha tentado vê-la antes mas desisti por alguma razão, é uma série que parece não ter pressa nem pressão para ter estrutura; comi; tirei um cochilo no sofá; acordei; passeei a cadela; preenchi os documentos para a segurança social que deram uma luta desgraçada; abri conta num banco que não cobra taxas de manutenção; investiguei um pouco sobre painéis solares; jantei e acabou o dia. No meio disto, umas trocas de fraldas salpicaram as horas.

Dizem que o tempo voa quando somos pais e parece que é verdade. Não se faz quase nada. Ah, para complementar o diário de ontem, para me sentir melhor por ter falhado, posso escrever um pouco sobre o “Waiting for Godot”, do Beckett. Não li tudo ainda. Fui ver a peça gravada no youtube e comecei a interpretar alguma coisa. Parece-me que Godot é o sentido da vida e os dois personagens, Vladimir e Estragon são duas vozes dentro de uma pessoa à espera de o encontrar. Quando Gogo pensa que Pozzo é Godot, representa um vislumbre de ver o sentido da vida no poder. Rapidamente esse pensamento se ultrapassa, mas no entanto a mente humana passou por lá. Não sei se é suposto existir algum sentido, vou apanhando o meu. Pensei em acompanhar a peça com o guião mas mudei de ideias, vou acabar de ler o primeiro acto, ver a peça até apanhar, depois voltar a ler, o segundo, e, por fim, terminar a peça em vídeo. Já estou desejoso de voltar a isso. Espero não adormecer.

Sobre o soneto que estava a escrever, percebi que não me lembrava de como se contam sílabas poéticas. Isto significa que não estava a escrever um soneto. Vou esquecer a forma que me prende. Faço isso de outra vez, agora vou só escrever o que me apetece. Fica aqui o esboço para continuar depois. Mas estou a perder a esperança na poesia. Dá muito trabalho.

Soneto desistido (ou Filho)

Lindeza que é bela e pura
Desejos de ser pé de bravura
Pele rosa, que nada é couro
Começas agora, tal calouro
Sono aquele que já não volta
Dado de oferta à vida nova

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