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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

05 de Dezembro, 2021

Comichão da madrugada

Bruno Gouveia

Qual é a cabeçada que faz crescer o tendão da vida passada? O que vier a correr pelas escadas abaixo com um cesto de cordel. A que espirra de um urinol e que celebra a fada madrinha. Parece-me que já estava deitada quando suspirou uma virilha congestionada. Não se passava com tanto trânsito mas a prenda que viria não era a mais famosa. Era cristão, o sapo que erguia poses intragáveis.

O forro da cabeça voltava para o ninho. Enquanto isso sucedia, a tinta secava no caderno para que os vorazes defecadores se abstivessem nas eleições. 

Penso em voltar para a cama e deixar a parvoíce. Acho que é o que faço melhor. Acho que sim, vou fazê-lo. É só mais alguma coisa para me levantar. É tudo tão blergh. Estou cheio de comichões. Não sei se é a mente que pica ou se é o meu eu físico a derrotar-me. Provavelmente o segundo.

Vou dormir. Até amanhã. Coço o queixo, coço as ancas, coço os braços. É um desconforto terrível. Coço o nariz. Agora coço com a imaginação. Não funciona tão bem como “the real thing”. E é uma pena. Nada do que escreva tem o poder que o coçar fisicamente tem. Cocei o olho e agora tenho expectoração. Tenho frio. Está frio. Estou desconfortável fisicamente. Será que me distrai do desconforto psicológico que sinto? Não estou assim tão mal.

O que acontece quando morrer? Ao que escrevi? Será que devo ter algum plano? Publicar isto em algum sítio? Só para não desaparecer tudo. Mas pensando bem, para que me preocupo com isso. Nada interessa depois de morrer. Quero lá saber se tudo vai, tudo vai mesmo.

Vou-me deitar.