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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

02 de Dezembro, 2021

Copo meio cheio, de vinho

Bruno Gouveia

Por onde começar? Hoje é daqueles dias. Sinto-me cansado, cansado de todo. O trabalho esgotou-me e tive de dormir uma sesta no sofá depois de jantar, enquanto assistia a Seinfeld, para me aguentar a esta hora. Antes de adormecer vi o episódio em que eles estão perdidos no parque de estacionamento de um centro comercial. É um bom episódio. Eu valorizo muito episódios de televisão que se agarram a um conceito e não o largam, comprometem-se a ele até ao fim. Não resulta sempre, mas este é um óptimo exemplo de como o fazer. O ritmo é belo, tudo o que pode acontecer, e certamente já aconteceu à maioria de nós, acontece sempre bem distribuído ao longo dos 20 e tal minutos de duração. E o final é a cereja no topo do bolo, o carro a não pegar.

Será uma boa inspiração para começar a escrever a minha série sobre a vida universitária? Está-me a custar dar o kick-off, ter perdido o que já escrevi, o episódio piloto, é uma grande decepção para mim. Mas por outro lado é bom, vou conseguir abordar a coisa com um novo par de olhos e não me agarrar aos meus “queridos” com cinco ou mais anos.

Abri uma garrafa de porto que tinha na cave e enchi um copo a mais de meio. Penso que pode ser um ritual para a escrita e temo que se torne um vício. Não queria nada, deixei de fumar há mais de um ano e não quero agora transformar-me num alcoólico da escrita. Até porque vem aí um bebé e não vou poder ter pinga de álcool no sangue quando precisar de tratar dele. Tenho a desculpa que é a despedida. “Dorme agora que depois não consegues.” Acho que o mesmo se pode aplicar a beber um copo depois do jantar.

E já estou exausto. A minha energia ficou em conversas um-para-um com pessoas da minha equipa. Conversas difíceis, daquelas que é preciso arranjar falas mansas para dizer verdades difíceis. Mas acho que consegui. E soube-me bem. Não é assim tão mau o meu trabalho quando consigo que as pessoas percebam que têm como melhorar. Até satisfaz. Devo é focar-me nisso, em ajudar as pessoas a crescer e menos nas tarefas monótonas. Aos poucos.

Os meus amigos mandaram-me uma foto deles todos juntos. Sinto inveja e falta de estar com eles. Chorei um pouco. Preciso socializar mas acho tão difícil ultimamente. Parece que desaprendi tudo o que me custou tanto a aprender nos últimos anos. A pandemia estragou-me. A mim e a tantos outros. Aos poucos.

Aos poucos. É desculpa para tudo o que não quero lidar neste momento. Aos poucos lá se resolve. Não sei se vai lá assim, mas aos poucos.