Diálogo com a Geringonça Espiã
Este diálogo é uma reprodução de uma conversa que tive (podem lê-la aqui), embriagado, num servidor de discord Classical Thinkers com o sujeito apelidado de SpyGadget e, em certas alturas, com outros intervenientes, Thonk e mist. Tomo liberdades artísticas, não sendo esta uma simples tradução literal e que os intervenientes se misturam a partir de certo ponto.
Qual é a diferença entre o passado e o futuro?
Há muitas maneiras de responder a isso, depende de como definimos o presente.
O presente é quem nós somos.
O passado é o que aconteceu, o futuro é o que está para acontecer.
O que te aconteceu a ti?
Apenas objectivamente.
E subjetivamente?
O que tem?
Como é que sabemos, com certeza, o que é uma memória e o que é um desejo? Afectam-nos da mesma maneira, certo?
O passado pode ser estudado através de observação. Pode-nos ensinar como o mundo funciona e qual a nossa natureza.
E se for o oposto? Se as nossas ideias sobre o futuro são o que fazem as nossas memórias?
Não podemos observar o futuro, apenas prevê-lo.
Nem observar o passado. As memórias não são objectivas.
Podemos estudar os resquícios do passado, o que foi observado, como um filme. O futuro não tem resquícios, a não ser que acreditem no sobrenatural.
Talvez os resquícios do futuro são as nossas previsões.
Nem sequer sabemos se o tempo existe nos próximos momentos, talvez as coisas desvaneçam instantaneamente.
Pensamos que podemos prever o futuro baseado nas nossas memórias, mas pode ser o contrário. Lembramo-nos com base no que queremos ser no futuro.
Também podemos argumentar que o passado pode ser fabricado, que todas as memórias que nos trazem ao presente não são reais. Portanto, apenas o presente é que verificamos ser real.
É por isso que tenho dificuldade em perceber entre os conceitos de passado e futuro, memórias e previsões. Não conseguimos saber de que maneira diferente afectam o nosso presente.
Isso vai contra a lei da causalidade, estás a entrar na toca do coelho.
Nós assumimos que há causas entre eventos e ideias. Há muitos conceitos difíceis de compreender, como o conceito de semelhança. Não conseguimos analisar como é que somos capazes de reconhecer que dois objectos são semelhantes, mas está muito relacionado como a nossa memória funciona. A nossa lógica está limitada ao que conseguimos compreender.
O que pode acontecer se removermos algumas dessas limitações?
A descoberta de partículas sub-atómicas fez as pessoas questionarem-se sobre a validade da lógica clássica, especialmente a lei do terceiro excluído e da não-contradição. Duas afirmações que tentam descrever como nós não somos capazes de ver dois acontecimentos opostos a acontecer em simultâneo.
Será que contemplar como o tempo funciona interessa no fim das contas? Não conseguimos dizer que alguma coisa é certa.
Parece ser útil para físicos, consigo ver potencial.
Acho que só importa se nos fizer existir. Se estamos a pensar nisso, é importante.
A realidade não é algo que consigamos determinar com certeza.
As palavras estão a perder o seu significado.
Eu avisei, toca do coelho.
É como quando repetimos uma palavras inúmeras vezes.
Como disse, não desafies a lógica.
Mas acho que devemos desafiar.
Quando começamos a desafiar a lógica sem usar uma lógica pré-estabelecida, arriscamos eliminar prova e assim destruímos o significado da conversa.
Não, o nosso objectivo é clarificar o conceito de tempo, apenas lidaste com isso com uma suposição.
Mesmo que todas as palavras percam o sentido. Para mim é divertido, entretém-me.
Podemos ver que outras maneiras existem para clarificar conceitos, tem propósito nesse sentido.
A única coisa que percebo é que tanto o passado como o futuro não são o presente.
Bem, consegues prová-lo? Se não consegues, não há razão para o discutir.
Há muitas coisas que são difíceis de provar, mas podemos criar hipóteses.
Mas tem algum propósito? Tudo é ao contrário, e então?
Não estava a dizer isso, estava a propor que o passado e o presente são a mesma coisa, que a direção não significa nada porque não conseguimos saber qual afecta qual.
Já viste o filme Tenet?
Não.
É o exemplo perfeito do passado ser o futuro.