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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

27 de Dezembro, 2021

Espremer ideias

Bruno Gouveia

O que se faz quando não sai nada? Quando tudo o que se pensa é vazio, ideias desprovidas de miolo. E quando me ponho a pensar nisso, penso que talvez todas as minhas ideias sejam assim. E se forem? O que é que isso muda? Nada. Miolo não é para todos, não precisa de ser para mim, contento-me com as côdeas.

Não sei no que hei de pensar para me surgir inspiração. O Natal deixou-me anafado. Eu pensava que anafado era baixo e gordo mas afinal não, é só gordo. Eu, mesmo sendo alto, posso ser anafado. Mais uma coisa para ser e experimentar.

Tentei fazer um diário de poemas num blogue. Mas para quê? Só me estava a massar. Vou colar aqui só para ficar registado. Foi perpétuo com 5 edições, foi irrevogável com mudança de ideias. Tudo o que é para durar nada dura e o que é temporário para sempre fica. 

Tenho a dizer que gostei do Natal. Estou a fazer-me gostar para quando tiver o rebento. Vai ser incrível. Eu adorava quando era puto, até perceber que tinha sido enganado. Mas tempo de qualidade em família será importante a partir de agora. Tenho muito para mudar em mim. Vamos a isso!

Hoje não veio nada, amanhã que seja melhor.

 

Poema Perpétuo 1 (4 dias atrás):

Hoje começa

O poema perpétuo

Tal como o caldo

Dura para sempre

 

A cada dia

Um verso muda

 

Não prometo

Que não mudem mais

Depende de mim

 

É tipo um diário

Em tentativa poética

Não sei ao que leva

 

Poema Perpétuo 2 (3 dias atrás):

Hoje continua

O poema perpétuo

Tal como o caldo

Dura para sempre

 

A cada dia

Um verso muda

 

É tipo um diário

Em tentativa poética

Não sei ao que leva

 

Na véspera da véspera

Soube a natal

Queijo, broa e vinho

Não há nada que faça mal

 

Quase a vir o rebento

Que não seja menino Jesus

Que espere mais uns dias

E que não faça o sinal da cruz

 

Poema Perpétuo 3 (2 dias atrás):

Hoje é Natal

O poema perpétuo

Tal como o Natal

Dura para sempre

 

A cada ano

Pouco muda

 

É tipo uma febre coletiva

Em tentativa poética

Não sei ao que leva

 

Faz a mala e vira

Rebola e sacode

Tudo o que cada momento é

Nenhum é mais que outro

Não há diferença entre nós e chimpanzé

 

No caminho para a morte

Tantos faz o que fazemos

Não interessa se matamos

Ou se ajudamos a velhinha do fundo da rua

Não interessa se sou forte

Ou se comemos carne crua

 

No fim tudo vale o mesmo

Nem a própria idade faz diferença

Se somos gente ou torresmo

Nada passa de uma crença

 

Poema Perpétuo 4 (1 dia atrás):

O Natal já foi

E não durou para sempre

Valha-nos Deus

 

A cada ano

Pouco muda

 

Estar adormecido no sofá

Estarrecido com tretas

Parece-me que não sou de cá

 

Tudo é feito para me tirar de mim

De mim que sou o que acho que sou

Mas que não sei distinguir

Que parte de mim é que deixo extinguir

 

Fantasias e escapismos

Não deixam que sobre

Nem roupa-velha sobra

Que me tire este espírito pobre


Poema Perpétuo 5 (hoje):

Acabou-se a motivação

Para escrever rigorosamente

Acabou-se o meu chão

Que me dava razão

De pensar incessantemente

 

Poetizar deixa assim

Um corpo vago em mim

Que de nada faço ilustre

Nem tem retorno nem fim

 

Triste deixar-me levar

Por um só impulso

 

Mesmo que sejam muitos

E se juntem todos

Muitos não fazem bons

Nem adicionam valor

 

Valor que de nada serve

Sem ser para continuar

Passar um pouco de tempo

Que não volta nem quero