Espremer ideias
O que se faz quando não sai nada? Quando tudo o que se pensa é vazio, ideias desprovidas de miolo. E quando me ponho a pensar nisso, penso que talvez todas as minhas ideias sejam assim. E se forem? O que é que isso muda? Nada. Miolo não é para todos, não precisa de ser para mim, contento-me com as côdeas.
Não sei no que hei de pensar para me surgir inspiração. O Natal deixou-me anafado. Eu pensava que anafado era baixo e gordo mas afinal não, é só gordo. Eu, mesmo sendo alto, posso ser anafado. Mais uma coisa para ser e experimentar.
Tentei fazer um diário de poemas num blogue. Mas para quê? Só me estava a massar. Vou colar aqui só para ficar registado. Foi perpétuo com 5 edições, foi irrevogável com mudança de ideias. Tudo o que é para durar nada dura e o que é temporário para sempre fica.
Tenho a dizer que gostei do Natal. Estou a fazer-me gostar para quando tiver o rebento. Vai ser incrível. Eu adorava quando era puto, até perceber que tinha sido enganado. Mas tempo de qualidade em família será importante a partir de agora. Tenho muito para mudar em mim. Vamos a isso!
Hoje não veio nada, amanhã que seja melhor.
Poema Perpétuo 1 (4 dias atrás):
Hoje começa
O poema perpétuo
Tal como o caldo
Dura para sempre
A cada dia
Um verso muda
Não prometo
Que não mudem mais
Depende de mim
É tipo um diário
Em tentativa poética
Não sei ao que leva
Poema Perpétuo 2 (3 dias atrás):
Hoje continua
O poema perpétuo
Tal como o caldo
Dura para sempre
A cada dia
Um verso muda
É tipo um diário
Em tentativa poética
Não sei ao que leva
Na véspera da véspera
Soube a natal
Queijo, broa e vinho
Não há nada que faça mal
Quase a vir o rebento
Que não seja menino Jesus
Que espere mais uns dias
E que não faça o sinal da cruz
Poema Perpétuo 3 (2 dias atrás):
Hoje é Natal
O poema perpétuo
Tal como o Natal
Dura para sempre
A cada ano
Pouco muda
É tipo uma febre coletiva
Em tentativa poética
Não sei ao que leva
Faz a mala e vira
Rebola e sacode
Tudo o que cada momento é
Nenhum é mais que outro
Não há diferença entre nós e chimpanzé
No caminho para a morte
Tantos faz o que fazemos
Não interessa se matamos
Ou se ajudamos a velhinha do fundo da rua
Não interessa se sou forte
Ou se comemos carne crua
No fim tudo vale o mesmo
Nem a própria idade faz diferença
Se somos gente ou torresmo
Nada passa de uma crença
Poema Perpétuo 4 (1 dia atrás):
O Natal já foi
E não durou para sempre
Valha-nos Deus
A cada ano
Pouco muda
Estar adormecido no sofá
Estarrecido com tretas
Parece-me que não sou de cá
Tudo é feito para me tirar de mim
De mim que sou o que acho que sou
Mas que não sei distinguir
Que parte de mim é que deixo extinguir
Fantasias e escapismos
Não deixam que sobre
Nem roupa-velha sobra
Que me tire este espírito pobre
Poema Perpétuo 5 (hoje):
Acabou-se a motivação
Para escrever rigorosamente
Acabou-se o meu chão
Que me dava razão
De pensar incessantemente
Poetizar deixa assim
Um corpo vago em mim
Que de nada faço ilustre
Nem tem retorno nem fim
Triste deixar-me levar
Por um só impulso
Mesmo que sejam muitos
E se juntem todos
Muitos não fazem bons
Nem adicionam valor
Valor que de nada serve
Sem ser para continuar
Passar um pouco de tempo
Que não volta nem quero