Febre da terceira dose
Ontem tomei a terceira dose da vacina, hoje acordei com febre, real ou imaginada. Segue-se o relato do meu pensamento perante tal condição.
Rebolo na cama para tentar falar com o corpo. Quero dividir-me em pequenas partes, pequenas bolinhas, como aquelas que davam estalinhos na língua dos gelados antigos. Tento sair do corpo mas os lençóis tépidos amarram-me a um imponente dormitar. Passa-me pelas vistas a assembleia da república e a vergonha de não estar, nem nunca vir a estar, lá. Um sopro desliza no coração, como que a percorrê-lo, tal escorrega de uma mina de sal. A seca do país reencontra-se na minha garganta e nem as chuvas do cantil a molham. Vejo tudo por um olho, tal pirata das picadas, filho imberbe das colmeias. Tudo faz e nada tem? O quê? Perguntas tu, de andarilho da rua, a carregar vasilhames de escudos, com a viseira colocada a meia haste. Os passos do gato são o despertar da nuca trémula.