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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

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05 de Janeiro, 2022

O que se passou

Bruno Gouveia

Estou sem sono e sem dormir. A melhor combinação. Acho que é ansiedade do bebé que aí vem. Deve chegar amanhã ou depois. Estou aterrorizado. Penso no pior, e se for daqueles pais que batem em bebés recém-nascidos? Aqueles que aparecem nas notícias por matarem os próprios filhos? É um terror que vai aqui dentro. Espero bem que a magia de ser pai compense isto que estou a sentir agora.

Ao mesmo tempo, para o passar, vou tendo memórias de coisas antigas. Cocktails de faculdade, um colega, no quinto ou sexto ano, cobrar-me 1 euro à entrada do balneário para não me violar. Esta última é mais traumática realmente. E nunca a tinha exprimido. Nem esta nem o que causou esta. Mas isso vai para uma outra vez. Levar óculos sem lentes como adereço de brincadeira, arrancar folhas a plantas carnudas que cresciam nos canteiros da escola e ser levado ao conselho directivo. Memórias diversas passam por mim. Já disse que sinto angústia? Muita.

Agora apetece-me fazer uma crónica. Como é que se faz isso? Acho que preciso de ajuda. Tenho de ir estudar outra vez, parece-me. Preciso de encontrar uma estrutura, ter entregáveis, um caminho um pouco mais bem definido do que o que tenho agora. Além disso, experimentar a técnica que o Ricardo Araújo Pereira falou na entrevista que deu à Bumba no Reset de escrita automática com tempo determinado. Vou tentar fazer os 20 minutos e ver o que sai. Mesmo que não saia nada, já escrevo alguma coisa num dia, nem que seja parvoíce.

E esforço-me a escrever para dar continuidade a uma brincadeira de criança. Não há ideia mais romântica que esta, o que me desilude um bocado. Não é uma ideia racional. Por outro lado, agora pensando melhor, não tem de ser. Não é por ser racional que é superior 

às outras, pode ser a mais absurda mas ser a que me faz sentir mais. E isso é bom.