Papa Figos
À medida que as coisas iam caindo dentro do carrinho, Joaquim pegava nelas, olhava atentamente para o seu rótulo, como que à procura do seu interesse. Não o encontrando, arremessava o objecto para fora da jaula ambulante. Um pacote de arroz faz txe, um pacote de leite faze ploc, uma lata de atum fazia planc. O que era uma brincadeira divertida, no seu princípio, deixou de o ser quando um Papa Figos voou contra uma das prateleiras. Os seus pais não esperavam que Joaquim tivesse força suficiente para levantar uma garrafa, não com aquela idade. Foi um escagaçal.
Foi por isso que Joaquim deixou de ir às compras, vigiar o mundo e fazer a sua musculação semanal. Das últimas vezes ficava preso na garagem a brincar num ginásio a sério, no que mais sério pode ser um ginásio para bebés. Também ali arremessava tudo o que encontrava para fora da sua área circunscrita. Quando acabava o stock, chorava. Depois de chorar, berrava. Depois de berrar, soluçava e, por fim, gemia. A exaustão levava-o a adormecer e às lágrimas a secar nos olhos, formando uma pequena película brilhante que não dava jus ao leito que tinha corrido pela cara abaixo.
Os pais voltavam das compras e o bebé tinha-se portado bem.