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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

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06 de Janeiro, 2022

Pára-me de repente o pensamento

Bruno Gouveia

O cigarro chinês, ou moxabustão, cheira a sálvia. Evoca-me pensamentos de criança quando comprei sálvia pela internet e fumei com amigos. Foi perto da altura em que perdi a virgindade, se é que isso significa algo. Pode até ligar a minha primeira experiência sexual com outra pessoa ao nascimento de um filho. As ervas ligam-me no éter e dão-me uma interpretação estranha e sobrenatural. 

Passei-me, enlouqueci e esmaguei uma bolacha belga. O atraso fez-me confusão, tirou-me do sério. Vê-la a empurrar bolas pela vagina ajudou a acalmar. Mas a ansiedade é muita. Mas acho que acalmei.

Ver o filme que dá o título a esta entrada foi óptimo. O que dizer. O filme é incrível. Os dois amigos, o que ri muito e o intelectual são dos melhores bromances que vi no cinema. Diz tanto. A fé é colocada como loucura.

O que lembrar mais? Era o dia em que o Gaspar devia nascer.

E por falar de catequese, uma música com letra que me bateu, Criatura - Da praxe.

E aqui ficam poemas estranhos. O primeiro foi a evocação da loucura, o segundo um exercício parvo de subida e descida de número de sílabas. Um joguinho parvo.

Li partes do Orpheu. Tentei comprar o livro de poesias completas de Ângelo de Lima mas não encontrei em lojas. Vou tentar comprar usado no OLX.

Um dia isto vai ser uma lista de tópicos. Espero que não.

Comida: bacalhau à brás.

Bebida: Martha’s (aguardente)



Pára-me de repente o pensamento

Não pára mas sussurra

Volta e encaixa a alma nossa

Descola e prega tal enigma

Surge e ilumina eterna vida

 

Rebola e circunda, eterna resplandece

Cresce

Favor a mim não faz igual

Um quadro a saber a fim

 

Envolto em umbigos chineses

Charuto da mesma nacionalidade

Esforça e expulsa o tal petiz

Tece a teia por um triz

 

Escuta a luz da candeia

Que parece que some

Escuta a palavra alheia

Não fala nem come

 

Surpreende a criatura vil

Com um beijo bianal

Acompanha vinho com o pernil

Espanta lá esse mal

 

Segundo nome na prateleira

Foge foge e repudia

Esconde o homem no mato

No domingo não se lavra

Na Lua esconde a fé

Que sirva de exemplo

 

Compro a tralha já usada

Visto a bata deformada

Corro atrás da mal amada

Passo a agulha por entre a malha

 

Fala por mim ó Mercúrio

Brinca comigo ó metal

Imprime-me sempre por dentro

Cospe-me a malta indignada

Foge ao sarilho da gente

Mija na corda e escorrega

Embrulha o caralho na terra

Cospe a canção na orelha virgem

Enfia e aprende

Que se de nada serve também tudo bem

Depois passa

 

Faz coruja na balada

Espeta o caldo na embalagem

Figura o centeio lá espalhado

Cobre de cinza a capela

Vaia o pobre

Corre o espéctaculo

 

Passa por água

Usa lixívia

Pensa na outra vigília, saboreia o mar amargo

Lambe quatro ou lambe três

Chora na vinda

Dor de mais não cumpre pena

Fogaz febre cheira a menta

 

Canta e postiga, faz a vida em redoma

Curte a cena e regozija

Rola a bola e pensa

 

Traça e mistura, faz e coze, vai e volta, corta a palha

Reluz a cana e pesca, pira-te e desdenha

Corpo assente em tijolo

Furtado pela tribuna mais ausente

Cresce a forma e mata

Limonada

 

Longe

Merece

E falece

A onda fria

Agora esquece

E desaparece

Atrás da noite

E desce

Perto