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Candonga

Mercado negro de ideias da minha cabeça.

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06 de Fevereiro, 2022

Sem escrever / Vício dos videojogos

Bruno Gouveia

Há muito tempo que não passeava. Hoje fomos comer um gelado à baixa do Porto. Já não via pessoas há tanto tempo que fiquei surpreso com os seus comportamentos no seu habitat natural, nas passadeiras, no trânsito, nas lojas. Quando vejo o Natural Geographic não fico a pensar que os animais se comportam de forma awkward, apenas existem e vivem. Os seres humanos não. Atravessam estradas fora da passadeira, a olhar para o telemóvel; estacionam em cima do passeio e quando vêm que um carrinho de bebé não passa encolhem o espelho em vez de tirar o carro; aceleram o passo quando vêem que paramos para as deixar atravessar a estrada mas só aceleram um passo, depois voltam a andar normalmente. Ficar privado de ver pessoas dá-me agora este vislumbre pela espécie humana, é como se tivesse chegado a um planeta alienígena habitado por bichos estranhos e desenquadrados. Mas o gelado estava bom, o gaufre é que tinha sal a mais.

-x- 

Foi só isto que escrevi nos últimos três dias. Começa o sentimento de culpa. Caí nos videojogos. Já posso admitir que tenho um problema? Quando começo a jogar qualquer coisa, ignoro quase tudo à minha volta. Adoro jogar mas tenho sempre em mim um residente que se recusa a apreciar o puro entretenimento, que pensa que o tempo está a ser esgotado em coisas inúteis. Mais em que é que jogar é mais ou menos inútil que escrever ou ler ou passear ou beber ou comer ou receber o salário ou defecar ou masturbar? É tudo o mesmo, passatempos que nos ocupam a cabeça até chegar a última morada da finitude. Pior ainda, são os pensamentos intermitentes entre as vozes cerebrais. Uma diz-me que realmente estou a perder tempo, outra diz que também preciso de descansar a cabeça. Para vozes silenciosas, fazem barulho a mais.

Joguei, não descansei enquanto não passei o Vampire Survivors. É um roguelike action RPG bastante simples, com progressão entre runs. O jogo é grátis, na sua versão web, porém tem uma versão com mais conteúdos por dois euros e pouco no Steam. Só precisamos de mexer o personagem para apanhar as gemas que dão experiência para evoluirmos o nosso personagem e desviarmo-nos dos inimigos. Evoluímos de nível, escolhemos armas e upgrades e tentamos sobreviver o maior tempo possível. Se aguentarmos meia hora, vencemos. É isto, simples e viciante. A quantidade de monstros vai aumentando cada vez mais e quando damos conta somos um deus da destruição numa festa interdita a epilépticos. Não consigo explicar melhor porque é que uma jogabilidade tão simples é tão viciante. Não experimentem. Comecei a jogar, lá para as 11 da noite, só para experimentar e quando dei conta eram quatro da manhã. Terrível. Depois fiz o que qualquer dependente deve fazer, partilhar com os amigos para eles ficarem tão hooked como eu. É, tenho um problema.

Por outro lado, sinto que estava a precisar de limpar a cabeça. Deu para ouvir podcasts quando jogava e relaxar. E hoje, decidi experimentar o Pokémon Legends: Arceus. Algo novo numa série estanque no tempo. Sei que estou a gostar porque estou a fazer todas as sidequests. Mais sobre isto nos próximos dias.