Tempos raros
Neste momento estou feliz. É raro apanhar estes momentos em que tudo bate certo, em que temos quase a plenitude do bem estar. O local, a música que o acompanha, os pensamentos que surgem. Agora sim. Estendo-me numa banheira de água tépida. A minha namorada dá banho ao bebé do outro lado da cortina. Fala com ele. Ele resmunga e aceita, pára. Ela tira fotos para mandar aos avós. A luz reflecte no tubo do chuveiro e cintila. Os Explosions in the Sky trazem calma e sabores oníricos. Se tudo acabasse aqui, estava bem. Cheguei cá. Tenho uma casa, uma mulher, um filho, uma mãe que sobrevive ao cancro, uma família. Não sabia que queria isto. Sabe tão bem e é tão raro apreciar momentos. As lágrimas correm e a guitarra plana junto a mim. Encolho-me e mergulho e volto à infância, aos banhos que a minha mãe me dava. Mergulhava-me e ouvia o mar, dizia-me ela. Os barulhos do café do piso de baixo diluíam-se na água do banho e simulavam golfinhos, corais, algas, submarinos, dinossauros, personagens das novelas. Daquele tempo até agora. Dois tempos felizes. Dois tempos raros.