Votar, inocular e resultado eleitoral
Escrevo esta entrada com um bocado de atraso. Ontem fiquei a acompanhar a noite eleitoral até às tantas e não tive tempo para escrever. Escrevo hoje que não tem mal.
O penúltimo dia de Janeiro podia ter sido melhor do que foi. Tinha a vacina, dose de reforço, marcada e estava a contar que o dia fosse de votação e inoculação. Apenas consegui cumprir parte. Quando cheguei ao centro de vacinação da Maia, que agora ocupa um antigo complexo de ginásios, esperei na habitual fila e tive a primeira surpresa do dia: já não havia vacinas. Dava para perceber, pelo que os funcionários iam dizendo, que era uma falta generalizada e que o país não tem doses suficientes para todos. Os jornalistas andam demasiado ocupados com eleições para reportarem estas coisas “menores”. Pediram-me o meu contacto telefónico e ficaram de me contactar para remarcar a terceira dose.
A outra parte, a da votação, correu melhor. Foi um bom pretexto para dar um passeio em família. Lá fomos nós, eu, a minha namorada, o pequeno Gaspar e a cadela Leia. O acto eleitoral decorreu com normalidade e tive uma experiência inédita na minha vida como eleitor, participei numa sondagem à boca das urnas. Nunca tinha participado em nenhuma, até tinha dúvidas se existiam mesmo ou se era tudo inventado. Ao sair da escola onde votei, um senhor interpelou-me e perguntou se queria participar na sondagem. Prontamente disse que sim e preenchi um boletim, em tudo igual ao oficial menos na cor (este era verde). Deixei assinalado o meu voto no Livre que, no fim das contas, não foi suficiente para eleger um deputado pelo Porto.
O resto do dia foi produtivo, consegui escrever alguns episódios para a terceira temporada do Cai Neve, reaproveitando algumas ideias que não tinha conseguido encaixar nos episódios anteriores.
Já depois de jantar, começaram a surgir na televisão as primeiras projeções que davam uma maioria forte ao PS. A maioria absoluta era já possível nessa altura, porém ainda uma possibilidade algo remota. Eu, votante do Livre, estava a torcer para a chamada eco-geringonça. Já assumia que era difícil haver acordo do PS com o BE e CDU depois do chumbo do orçamento do ano passado. Ao avançar da noite eleitoral, foi sendo cada vez mais notório que o Costa não ia precisar de mais ninguém para governar. Fico desiludido, acho que vão ser quatro anos pobres politicamente.
Por outro lado, vai ser interessante ver como os (muitos) partidos derrotados se vão recompor. O Rio deixou a entender que já deitou os últimos cartuxos e muitos militantes vão, com certeza, fazer o choradinho para o regresso de Passos. Considero que Rangel não vai ter condições políticas para liderar o partido, visto ter perdido com o grande derrotado. Perder com quem perde não dá grandes sinais de força. O bloco também precisa de refrescar a sua liderança mas Catarina Martins não parece dar sinais óbvios da sua retirada e acho que ainda é cedo para Mariana Mortágua fazer movimentações. O PCP sai também em maus lençóis, não tão maus como o BE, mas os suficientes para procurar em João Oliveira um fiel substituto. Os Verdes e o CDS desaparecem, tendo este último a possibilidade de ter Nuno Melo como líder e carrasco do partido. O PAN também precisa de uma mudança de rumo e de se afirmar num espectro político, a sua elasticidade parlamentar não o favoreceu e não parece ser com Inês Sousa Real que alguma coisa seja diferente.
Para concluir, o que desejo para o Livre é que consiga, nos próximos quatro anos, aproveitar-se da arrogância de Costa. Ir buscar aos múltiplos erros que o governo irá com certeza cometer (se sem maioria manteve o Cabrita, podemos prever que com maioria vamos ter desastres ainda maiores) oportunidades para persuadir os eleitores que fugiram do PCP e do BE e que nestas eleições votaram no PS com medo de uma maioria de direita.